“Eu não tenho vergonha de contar
Meu passado sofrido no sertão”
Os costumes do chão que eu fui criado
Se apresentam por mais que eu represente
O passado entranhado no presente
E o presente envolvido no passado
Minha mão tem o cheiro do roçado
A saudade me invade o coração
Já puxei água funda em cacimbão
E catei muitas frutinhas pra chupar
Eu não tenho vergonha de contar
Meu passado sofrido no sertão
Eu vivia da roça pra cozinha
Conduzindo estilingue no pescoço
Repetia três vezes o almoço
Pra ganhar três pedaços de galinha
Condição favorável eu não sentia
Os vizinhos de perto também não
Pai vivia devendo a meu patrão
Mãe vivia lavando pra ganhar
Eu não tenho vergonha de contar
Meu passado sofrido no sertão
Sinto o peito alegando o que está ruim
E mais fracasso na vida do que mel
O presente pagando aluguel
Pro passado viver dentro de mim
Eu pensei que jamais ficasse assim
Com tristeza na imaginação
E se sofrer purifica algum cristão
Tenho toda razão de me salvar
Eu não tenho vergonha de contar
Meu passado sofrido no sertão
Relembrando os meus dias joviais
As lembranças parecem meteoros
A tristeza adentrando pelos poros
Como um vírus que entra e não sai mais
Fico muito lembrando dos meus pais
Meus avós, cada tio e cada irmão
Os menores sofrendo sem ter pão
Os maiores sofrer sem ter pra dar
Eu não tenho vergonha de contar
Meu passado sofrido no sertão
Edmílson Ferreira
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